DANIEL FARIA
( BRASIL – DISTRITO FEDERAL )
Possui graduação em História pela Universidade de Brasília (1998), mestrado em História pela Universidade de Brasília (2000) e doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2004).
Concluiu o pós-doutorado pela mesma universidade em 2008.
Atualmente é professor do Departamento de História da Universidade de Brasília. Professor de pós-graduação na mesma universidade, na linha de Ideias, Historiografia e Teoria. Membro do Núcleo CNPQ História e Linguagens Políticas.
Livros e capítulos
FARIA, Daniel. Anamorfose de um dia: o tempo da história e o dia 11 de dezembro de 1972. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 8, n. 17, 2015.
FARIA, Daniel. O Mito Modernista. Niteroi: EdUFF, 2006.
BABEL Poética. Ano I no. 1 –Tradução e Crítica. Novembro/De2020. Belo Horizonte – Minas Gerais. 64 p.
ISSN 1518-4005. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
POEMA BRECHTIANO PARA UM
31 DE MARLO ESQUECIDO
a noite é clara
no terreno baldio
uma centena de jovens
que mal batem à máquina de escrever
esperam armas de fogo, o combate
que não acontecerá
a cidade-monumento, a cidade-estátua
a cidade mármore
não foi feita pensando nisso
e se cobrira de esquecimento
mas naquela noite
provavelmente depois de um dia chuvoso
quando os pais rezavam
ou simplesmente dormiam.
o sono dos justos
os filhos aprendiam a diferença
entre o sereno e o gatilho
entre o pequeno e inútil gesto de bravura
e a fuga daqueles que acenderam a pólvora
nunca mais os ônibus circulariam daquela
forma
com aquela ansiedade
de quando conduziram os combatentes aos
seus lares
após deporem a municão inexistente.
a cidade respirou aliviada
vencedores e vencidos partilharam o butim.
mas nãos se negará que houve heroísmo nesta
história.
INSIDIOSA ALEGRIA À BEIRA MAR
& UMA PROMESSA DE ESQUECIMENTO
1. Sereias Esterofônicas
Eles me querem todo-ouvidos
invadir a lucidez, o que dela me restou,
fazer-me translúcido ao seu bombardeio de
ruídos.
Gritos entrando para dentro, esvaziando o
pensamento,
pleno de barulhos criados em sus máquinas
de ensurdecer,
de inocular a alegria insidiosa.
Eles não querem que você me escute, que eu
te ouça.
Eles querem que você me escute, que eu
te ouça.
Eles interpõem sua muralha de barulhos
entre tua boa e meu ouvido.
Eles nos querem calados, atônitos,
bonecos fantasmas insones.
As sereias se cansaram de esperar
e arrombaram nossas portas a pontapés,
carregando auto-falantes e fones de ouvido,
pousaram com suas garras de aves de rapina
sobre o que restou de nossos pensamentos.
2. Espinho não machuca flor
Me lembro de um cara
dando tapas na barriga dela e dizendo
este filho ainda a ser concebido vai ser meu!
E era um fim de noite todos de ressaca
depois do bombardeio das sereias barulhentas
e risonhas, desgrenhadas sereias
que naquela hora já dormiam em seus ninhos.
Me lembro de um cara
apertando o rosto dela com as mãos
como se fosse uma sanfona ou pior um fole.
A noite apenas começava
o calor subia dos paralelepípedos como um
vapor
e o que subia junto eram as falsas promessas
chaves,
Me lembro de um cara
colocando de propósito a música dela predileta
na praça no meio dos bêbados.
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Página publicada em fevereiro de 2024
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